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A experiência da paternidade

Eu tinha acabado de completar 29 anos, recém casado, o meu foco e o de minha esposa estavam completamente voltados para os estudos, como sabem a cultura de concurso público é gigante em Brasília.

Queríamos filhos, mas não no momento. Chegávamos a estudar mais de 10 horas por dia, renunciando várias reuniões de família e eventos de amigos. Queríamos estabilidade financeira. Queríamos ter aquela gestação de “novela”, planejada nos mínimos detalhes.

Mas! Mal sabíamos o que a vida estava planejando. No primeiro semestre de 2015 ficamos sabendo que nossa família cresceria.

Passados mais de 3 anos eu ainda não sei descrever ao certo como foi a sensação de quando “deu positivo” o teste de farmácia. Era um misto de alegria com desespero. Sim. Desespero. Estávamos muito felizes, mas tudo era novo e sabíamos que dali para frente tudo seria diferente.

Sempre pratiquei atividade física e consegui contaminar minha esposa com esse hábito. Com isso a gestação foi tranquila, perfeita. Participei de todo o pré natal, fui em todas as consultas e exames. Pesquisei tudo que me vinha a cabeça, atrás de informação e mais informação. Gerenciava o tempo como podia: horas de estudo/consultas/exames/atividade física/trabalho. Tudo muito corrido e exaustivo, mas gerenciável.

Em dezembro nasceu nosso primogênito, forte e saudável. Apesar de mais de 24 horas com a bolsa estourada, não houve contração ou dilatação e assim ele veio ao mundo de cesárea. Recebemos alta e fomos para casa. Fomos abençoados. Logo na primeira semana ele pegou peso, não houve muita dificuldade no início da amamentação e dormia muito bem, chegava ao ponto de eu levantar da cama para conferir a respiração.

Fizemos nosso planejamento em casa e decidimos voltar as atividades físicas aos poucos. Voltamos para academia. Minha esposa voltou a correr e íamos levando tudo aos trancos e barracos, mas indo.

Na primeira corrida de 5km que minha esposa participou levamos um susto: o monitor cardíaco dela disparou no meio da prova. E isso coincidiu com a falta de produção de leite. Fomos juntando as coisas e ela decidiu fazer um exame de sangue. E adivinha? Deu positivo, estávamos esperando mais um filho. Novo misto de felicidade e desespero, mas agora com uma dose de medo. Medo porque sabíamos a loucura que seria iniciar uma gestação agora, com o mais velho com quase 9 meses de idade.

Marcamos para o dia seguinte um ultrassom para verificar se estava tudo bem com o bebê. Então, bem assim do nada mesmo, a médica fala: “já decidiram o nome do menino?”. Hein? Como assim? Menino? Pois é. A gestação já estava com mais ou menos 22 semanas. Fomos para o exame para saber como estava o embrião e saímos com o sexo do bebê!

Agora o sentimento era de puro desespero. Passou tudo pela minha cabeça: contas, tempo, estudo, objetivos, dinheiro, casa, apartamento, viagens, tudo! Passou o baque da notícia, aceitamos bem e decidimos seguir em frente e agora com pouquíssimo tempo para reorganizar tudo o que estava sendo reorganizado. Demos a notícia para a família. Alguns nos chamaram de loucos, outros não acreditaram, mas a maioria ficou muito feliz. Mais uma vez fomos abençoados e a gestação foi ótima. Tudo ocorreu bem.

No início de 2017 nasceu nosso caçula, poucas semanas depois do aniversário de um ano do mais velho. Parto cesárea. Alta dentro do previsto. Recuperação boa e fomos para casa. Aí que vem a loucura. Fomos mal acostumados com o mais velho e pensamos que tudo seria como foi com ele. Ledo engano. O caçula não dormia direito, não mamava bem, sentia muitas cólicas e não deixava ninguém dormir. Minto. Pelo menos quando ele acordava não despertava o irmão. Foram meses de olheiras e mal humor. Fizemos massagem, compramos e demos tudo quanto é solução mágica para amenizar as cólicas e melhorar o sono.

Descobri que a privação de sono é uma das piores (se não a pior) coisa que uma pessoa pode enfrentar. A situação só foi melhorar depois do diagnóstico de que ele tem APLV – alergia a proteína do leite de vaca. Com isso, minha esposa fez dieta por mais de um ano sem comer qualquer coisa que tivesse traços de proteína do leite de vaca e o sono e alimentação dele foram regulados.

Percebeu que eu não falei mais nada de estudo e atividade física né? Pois é. Depois do nascimento do caçula eu passei alguns meses me frustrando: não conseguia estudar, não conseguia correr e o pior, não conseguia ajudar em casa, não o tanto que eu fazia antes.

Mas porque eu estou falando toda essa jornada? Foi nesse momento que eu tive que me reencontrar. Decidi focar minha vida e meus esforços para minha família e meus filhos. O tempo passa rápido, rápido demais para deixar de lado o mais importante de nossas vidas. Dinheiro vai e vem. O tempo só vai, escorre pelas mãos. Lutar para ter uma vida com boas condições é inerente de todo ser, mas é preciso dar prioridade a certos momentos da vida. Acompanhar o crescimento de seu filho é um desses momentos únicos que passam e não voltam. Eu decidi não ter arrependimento futuro e deixei metas e sonhos suspensos. Percebi que passar uma tarde brincando no parquinho trará mais benefícios para meus filhos do que uma tarde no escritório tentando alcançar uma meta que foi traçada por outra pessoa. Desde que tomei essa decisão, minha visão de mundo mudou completamente. A dedicação que dou para minha família é imensamente retribuída pelos olhares e carinhos que recebo.

Depois dessa decisão tudo ficou mais claro e fluiu normalmente. A cada brincadeira e beijo que recebo dos meus filhos me dá a certeza de que tomei a decisão certa no momento certo.

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